À aventura
O que nos leva a arriscar? É sabido que o sentimento mais primordial de qualquer animal é o medo. É o medo que rege a preservação de qualquer espécie. É o medo que leva a estratégias de caça, de construção de abrigos, de criação de comunidades, etc. Nos seres humanos, o medo está embutido em quase todas as nossas ações a partir do momento em que ganhamos consciência da morte.
O que se aprende com a experiência de vida é exatamente a controlar esse medo e a transformá-lo noutras emoções, umas mais construtivas que outras. Mas uma das mais valorizadas é, sem dúvida, a coragem. Transformar o medo em coragem é possivelmente a capacidade mais extraordinária que possuímos, em termos de comportamento, precisamente porque nos leva a uma superação dos nossos próprios condicionamentos. Quem me procura em consultas de Erotic Coaching vem sobretudo com este intuito.
O medo, que por vezes ganha a dimensão de vergonha, timidez, autodepreciação, falta de autoestima ou autoconfiança, é superado pela vontade de dar uma oportunidade ao desconhecido, seja em autoconhecimento, relacionamento com outros ou novas experiências dentro do âmbito do erotismo e da intimidade. Nessa decisão de procurar transformar o medo em curiosidade, desejo, vontade e vivências positivas, revela-se todo o potencial humano para o prazer, pois o verdadeiro prazer começa onde o medo acaba. E nessa linha que separa estas duas emoções, mas que ao mesmo tempo as define, nasce a noção de aventura. A aventura é o salto que o medo dá por cima dessa linha em busca do prazer.
Não existe aventura sem medo. É o medo que define o espírito aventureiro porque é no desconhecido e no inexplorado que reside a aventura. É então que o medo se transforma em coragem e a coragem, recompensada, se transforma em prazer. Um ciclo que ganha ainda mais significado quando percebemos que o salto que o medo dá em direção ao prazer, não implica apenas coragem (porque a coragem assume consequências) mas sim um salto de fé. Essa fé, que nada tem de religiosa, é a fé que, subitamente, descobrimos que temos em nós mesmos. E é nesse momento que tudo se torna ainda mais transformador. A partir do medo, criámos coragem, espírito de aventura e crença em nós mesmos.
É este apetecível resultado que nos leva a querer arriscar. Seja quando experimentamos algo novo, quando demonstramos as nossas emoções ou quando nos abrimos e damos aos outros. É ao superamos o medo do medo que percebemos que a verdadeira aventura é acreditar em nós próprios. Um pequeno passo para o medo, um enorme passo para o prazer.
Rui Simas
Erotic coach