A vontade sem limite
Fala-se muito sobre onde o prazer sexual começa mas fala-se pouco sobre onde pode (ou não) acabar. O prazer, no geral, é algo que se busca incessantemente nas mais variadas áreas e normalmente a culpa é atribuída aos impulsos, à excitação ou a um estímulo. E o fim desse prazer está normalmente associado à satisfação, ao cansaço, ao desinteresse, à falta de capacidade de o desfrutar ou, simplesmente, ao aborrecimento. Mas e se eu dissesse que a frustração pode ser um prazer?
No caso do prazer erótico, um dos pontos mais fascinantes é exatamente a possibilidade de se controlar o seu início e o seu fim, sem ser necessariamente através da uma ignição e de um esgotamento. A estimulação erótica e sexual não tem de ser um crescendo, não tem de atingir um fim, nem tem de concluir numa explosão orgásmica. Mais do que uma bomba relógio, o prazer erótico pode ser como uma ondulação de praia que rebenta e volta a rebentar ou que simplesmente desliza pela areia incessantemente, enchendo ou vazando a maré do corpo, da mente e da alma.
No caso do corpo, o “edging” é o método de levar alguém ao limite da estimulação sexual sem nunca deixar atingir o orgasmo. Neste caso, o que se controla é o momento da rebentação. A energia causada pela estimulação física leva o corpo a desfrutar de ondas intensas de prazer sem nunca atingir o ponto de libertação orgásmica, convidando-o a gerir essa energia e sentir os seus efeitos. Neste caso, os efeitos são sobretudo sensoriais e a intervenção é feita diretamente no corpo.
Mas as possibilidades de controlar o prazer erótico e sexual podem ter uma dinâmica mais psicológica. Controlar o desejo mental é uma das componentes do jogo de poder ou de role play. Por exemplo, nas práticas de BDSM (bondage, dominação, submissão e sado-masoquismo), a forma como se controlam os limites do prazer e da vontade têm a ver com desafios psicológicos negociados e testados, onde a própria vontade, os impulsos, a excitação e a estimulação sexuais podem ser postos em causa, em busca de uma maior realização pessoal, íntima e erótica. O fim pode nunca chegar ou pode ser definido por uma palavra de segurança, sem qualquer ligação com o momento orgásmico.
Neste caso, o fim mais desejado pode mesmo ser adquirir a capacidade de gerir a frustração do condicionamento provocado por outra pessoa, na procura de alimentar o desejo por nós próprios. Algo que pode levar a um êxtase mental que ultrapassa, em muito, o momento da interação física. Neste âmbito da expansão física, mental e emocional do prazer, existem ainda práticas que podem ajudar a despertar outras dimensões energéticas e espirituais, explorando novos limites do prazer.
A capacidade de nos desprendermos da realidade que é imposta por noções físicas e sociais, é um passo determinante para conseguirmos compreender a fluidez do prazer. Mais do que algo que se usa, gasta, acontece num momento ou que liga e desliga quando se tem tesão, o prazer sexual pode ser algo contínuo e constante, com flutuações de intensidade consoante os momentos de maior procura ou entrega, de maior proximidade ou afastamento e de maior contacto ou conexão.
Neste caso, o fim do prazer é o seu princípio e o seu princípio é o seu fim. Com tudo isto, não pretendo dizer que alguma destas opções é menor o maior que a outra. A dimensão humana do prazer merece ser desfrutada em todas as suas variantes e sempre com uma atitude positiva e expansiva. Mas mais do que pensar no prazer com um meio para chegar a um fim, a verdadeira magia do erotismo acontece quando não se olha a meios para desfrutar de cada momento sem fim à vista.
Rui Simas
Erotic coach