A coleira | Conto Erótico
Ela era mãe de três. Era assim que se apresentava a qualquer pessoa. Não se lembrava há quanto tempo era casada, nem porquê, mas lembrava-se de quantos filhos tinha. Dez, sete e quatro. Eram as suas idades. Três crianças com três anos de diferença entre elas. Eram a sua vida, a sua razão de ser. Trabalhava em casa só para estar mais tempo com eles. Uma vez, partiu de viagem com tudo dentro do carro, exceto o marido. Às vezes, nem se lembrava do nome dele. Na cama, nem sequer olhavam um para o outro.
As luzes eram apagadas antes mesmo de se deitarem e cada um dormia para seu lado. Ela lembrava-se de te feito sexo três vezes com ele, contando pelo número de crianças. Mas não se lembrava de muito mais. A sua rotina não dependia em nada da presença do marido. Fazia tudo sozinha. Enquanto as crianças estavam na escola, passava os dias a fazer bolos para fora, a ler livros e a sonhar acordada. Um dia, o carteiro bateu-lhe à porta para lhe entregar uma estranha encomenda. Achou estranho porque não estava à espera de nada, mas confirmou a morada e decidiu aceitar.
Poderia ser alguma surpresa enviada por algum familiar ou amigo. Abriu o pacote e, junto a uma caixa de couro, encontrou um cartão. No cartão, escrito à mão, numa letra difícil de decifrar, vinha algo sobre ter um animal de estimação que ela não conseguiu perceber. Curiosa, abriu a caixa e lá dentro encontrou uma coleira de cão. Ficou a pensar. Quem lhe enviaria uma coleira de cão por correio? Verificou a morada outra vez. Estava certa, era a dela. Mas não tinha nome. Era uma piada? Do seu marido? Ou de outra pessoa?
Achou que era tudo demasiado estranho e escondeu a caixa num dos seus muitos armários. Falaria com o marido mais tarde para saber se ele tinha decidido, sozinho, comprar um cão para satisfazer o desejo mais pedido pelas crianças. Isso não estava nos planos. Se alguém haveria de satisfazer esse desejo, era ela. Pegou num livro para se distrair. Dez minutos depois, a campainha da porta tocou novamente. Suspirou. Logo no momento em que os protagonistas iam finalmente consumar o seu amor proibido numa praia deserta, ela fechou o livro, abriu a porta e abriu a boca.
Os seus olhos arregalaram-se. À entrada, estava uma mulher alta, de cabelos longos e ruivos, óculos escuros, lábios negros, vestida de couro preto até aos joelhos, meias de rede e sapatos pretos de salto agulha, que segurava uma pequena mala, também preta, com uma corrente dourada que se enlaçava por entre os dedos calvos de unhas aguçadas, pintadas com o tom do cabelo. Quase sem se mexer, a mulher perguntou se ela, por engano, não teria recebido uma encomenda recentemente. Ela estava demasiado vidrada naquela figura para conseguir responder. Era a sua nova vizinha da frente, que costumava fazer barulho com os saltos nas escadas já depois da meia-noite, mas que ainda ninguém tinha visto fora de casa.
Agora tudo fazia sentido. A encomenda que recebera era para aquela mulher. A mesma morada, o mesmo andar, a porta errada. Mas para que quereria ela uma coleira? Nunca tinha ouvido nenhum animal ladrar dentro do prédio. Perdida nestes pensamentos, viu a mulher tirar os óculos escuros, revelar os seus olhos de um azul gelado, e voltar a perguntar se ela tinha a sua encomenda, mas desta vez com uma voz mais pausada e um sorriso que lhe pareceu provocante. Um arrepio percorrer-lhe a espinha. Com a voz a falhar, respondeu que sim.
A mulher sorriu finalmente com a boca toda. “Pode dar-me, por favor?”, perguntou-lhe. Novo arrepio. O segundo “sim…” quase não se ouviu. Abriu mais a porta, e andou para a frente e para trás várias vezes sem saber se convidava a mulher para entrar ou deixava à porta. Decidiu não dizer mais nada e largar a porta. Sentia-se tão desajeitada e ridícula com as roupas “de mamã”, o cabelo mal amanhado e a cheirar a bolos, perante aquela figura tão cuidada ao detalhe, que pensou que se alguém merecia uma coleira de animal era mesmo ela.
Tentou dirigir-se rapidamente ao quarto, com os seus chinelos já gastos que teimavam em sair do pé, e voltou com a encomenda a tremer nas mãos. A mulher, do outro lado da porta, ao ver o pacote aproximar-se, mordeu os lábios. Quando finalmente recebeu a caixa de couro, a mulher alta debruçou-se sobre ela e agradeceu-lhe com um beijo que lhe acertou nos lábios. Ela petrificou, como se tivesse recebido um beijo da própria Medusa.
A mulher agradeceu mais uma vez, atravessou o corredor com passo apressado e entrou em sua casa. O som da porta a fechar despertou-a. Os seus olhos pestanejaram, a sua língua provou o batom preto com que a mulher marcara os seus lábios, e, com um movimento quase inconsciente, fechou a sua porta e dirigiu-se à cozinha. Precisava de beber qualquer coisa, E muito. Mas assim que se virou, a luz do sol vinda de uma janela aberta bateu-lhe nos olhos e, por momentos, cegou-a.
Às apalpadelas, foi fechar os estores de metal e, de relance, por entre as frechas das lâminas, viu a mulher dos lábios pretos a passar junto à janela da frente. Esfregou os olhos. Aproximou a cara do metal escaldado pelo sol de verão, abriu ligeiramente um espaço com os dedos e olhou com mais atenção.
A mulher estava sentada numa cama, com um computador portátil nas mãos e parecia estar a falar para o écran. Subitamente, a mulher levantou-se, pousou o computador na cama à sua frente e começou a despir-se, como se estivesse a fazer um strip para alguém do outro lado.
A cada peça de roupa que a mulher tirava com extrema delicadeza e elegância, ela sentia uma onda de calor a percorrer o seu corpo.
Estava a toda a ferver mas as suas mãos estavam geladas. Coloco-as entre as pernas, apertou as coxas e sentiu o coração acelerar. Susteve a respiração. Focou novamente o olhar por entre os feixes de luz e viu a mulher de cabelos ruivos já em lingerie, com um corpo tão branco e torneado que parecia esculpido em mármore. Ela sentiu a garganta seca e lembrou-se que ainda não tinha bebido nada para humedecer a boca. Uma das suas mãos agarrou-se ao peito e deslizou para tocar um dos seus seios.
Nunca tinha ficado tão fascinada por outra mulher e muito menos sentido aquela excitação por estar escondida a ver alguém na sua intimidade. Engoliu novamente em seco. A vizinha pegou na caixa de couro e retirou a coleira de cão como se fosse uma joia preciosa. Colocou-a no pescoço e inclinou-se sobre o écran do computador. O seu rabo empinado ficou diretamente apontado para os olhos dela. Abanando-o, como um animal feliz, a mulher começou a dar palmadas em si mesma. Ela sobressaltou-se. A mulher estava a bater-se. “Tão estranho e tão excitante ao mesmo tempo”, pensou.
Depois, inclinou-se outra vez e viu a mulher a tirar as suas cuecas de renda muito lentamente. Estava tão excitada que não podia deixar de se tocar. As suas cuecas estavam encharcadas. Os seus dedos, já quentes, não paravam de se mexer entre as coxas, roçando os lábios da sua vulva mas sem ainda tocarem no clitóris. Quereria mesmo ter um orgasmo provocado por outra mulher? Os seus mamilos estavam tão duros que os conseguia sentir mesmo através do soutien almofadado.
Fechou os olhos por momentos para se sentir e estremeceu. O seu corpo estava em ebulição, num misto de excitação e vergonha. Voltou a abrir os olhos e a espreitar pelas linhas de luz. Procurou a mulher dos lábios pretos mas não a encontrou no seu campo de visão. Tentou espreitar por outros ângulos mas ela já não estava em frente à cama onde ainda estava o computador. Será que ela a tinha visto? Será que se tinha apercebido do seu olhar? A sua respiração acelerou ainda mais.
Os seus dedos estavam já enfiados na sua roupa interior à espera de um impulso final que os fizesse enfiar dentro dela. Suspirou ansiosa. Uma sombra apressada anunciou o regresso da vizinha ao quarto e logo a seguir ela reapareceu com algo reluzente na mão. Parecia um pequeno objeto de metal, ligado a uma cauda de animal. A mulher subiu para a cama, reposicionou o computador e colocou-se de quatro com o rabo virado para o écran. Depois, baixou a cabeça e, com uma mão, começou a inserir o pequeno objeto de metal dentro do seu orifício anal, muito lentamente.
Ela estava a fazê-lo para o écran mas, atrás dos estores, nas sombras rasgadas por feixes quentes de luz, um outro olhar voyeurista sentia cada milímetro daquele objeto de metal a entrar dentro daquele rabo empinado, como um animal com o cio. Enquanto via aquele gesto, o seu corpo tremia, quase ao ponto do espasmo orgásmico. Na sua vida pessoal, nunca tinha sequer pensado em usar o corpo daquela forma.
Nunca o seu próprio marido a tinha colocado naquela posição. Mas agora, ali estava. Uma mulher como ela, que explorava o seu próprio prazer sem qualquer tabu. E quanto mais a via, mais desejava ser como ela. Queria conhecer-se melhor. Tinha-se esquecido de como procurar prazer fora da rotina do dia a dia. Tinha-se esquecido de como aprender mais sobre si mesma. Tinha-se esquecido de como ser mulher, além de ser mãe.
E agora, queria ser outra pessoa. Queria sentir aquele pequeno objeto de metal a ser inserido dentro do seu próprio rabo. Quase conseguia imaginar o prazer que seria. O metal frio a penetrar o seu corpo ardente. O corpo a adaptar-se a um objeto estranho, senti-lo a pressionar contra as suas paredes interiores. E ver uma cauda longa e macia a sair-lhe do rabo, como se fosse realmente um animal selvagem.
Só de pensar em alguém desejá-la de forma animalesca, sem controlo, sem pudor, era demasiado bom, diferente, tentador. E foi o suficiente para a sua imaginação provocar o orgasmo que o seu corpo resistia em dar. Uma explosão tão intensa que a fez soltar um pequeno grito de prazer. O silêncio da rua e as janelas entreabertas fez o som chegar ao quarto da mulher exibicionista. Ainda de quatro, e com a cauda de cão pendurada no rabo, a mulher virou a cabeça e os seus olhares cruzaram-se.
Ela, paralisada por fora e ainda em convulsões por dentro, com uma das mãos presa entre as coxas e a outra apoiada no beiral da janela, subjugou o seu olhar ao da mulher ruiva, que lhe deitou a língua de fora e sacudiu o rabo, como uma cadelinha feliz. Ela corou, correu para o quarto e escondeu-se debaixo dos seus lençóis. O dia passou. Nem um bolo foi feito. Nem um livro foi lido. Nem nada arrumado ou limpo. Não houve pachorra para crianças, banhos, trabalhos de casa ou grandes cozinhados.
Mas houve guloseimas, mesmo em noite de semana. Quando o pai chegou ainda estavam todos acordados. Teve de aquecer o seu jantar, tomar conta de quem lavava os dentes e ler as histórias de embalar. Hoje ela não seria a mãe que eles precisavam, seria apenas a mulher que ela precisava ser. E naquela noite, pela primeira vez, não dormiu virada para o seu lado. Dormiu de barriga para baixo, com o rabo ligeiramente empinado.