A massagem | Conto Erótico
Ele era um rebelde. Não se lembrava bem porquê mas desde que começara a andar que testava os limites da paciência de todos os que o rodeavam, fossem conhecidos ou desconhecidos, em sítios privados ou públicos, em momentos solenes ou de simples convívio. A sua vontade de fazer algo arriscado, perigoso, proibido ou até criminoso, criava uma tensão que punha toda a gente alerta. Ao longo do tempo, foi atraindo cada vez mais pessoas iguais a ele, levando a uma escalada de ações que acabaram por o levar à prisão. Aí, foi a vez dele começar a ter medo dos outros. Apesar de achar que conseguia dar a volta a quem quer que fosse, cedo percebeu que isso só lhe garantia dor, tortura e noites sem dormir. Começou a pensar duas vezes antes de fazer ou dizer o que quer que fosse.
Como demasiadas cicatrizes no corpo, passou a dedicar o seu tempo a ler livros sobre como cuidar da mente. Absorvido por esse conhecimento, o seu comportamento tornou-se cada vez mais pacífico e, em pouco tempo, foi devolvido à liberdade. Sem ninguém para o receber neste novo mundo, usou o pouco dinheiro que lhe restava para se albergar numa pequena pensão nos arredores da cidade. Precisava de se sentir novamente humano e parte da sociedade. Mal entrou no seu quarto, trancou a porta e deitou-se na pequena cama, para dormir já sem um pedaço de vidro debaixo da almofada ou um fio de nylon enrolado no pulso para se defender de algum ataque noturno dos colegas de cela. Estava finalmente em paz.
Subitamente, bateram-lhe à porta com dois toques muito suaves. “Nem um minuto de paz”, pensou. Levantou-se. “As suas toalhas, senhor”, disse a voz do outro lado da porta. Ele sorriu. Toalhas significava tomar banho pela primeira vez sozinho, sem tempo contado e, possivelmente até com água quente. Outro tipo de paz que pouca gente valorizava. Abriu a porta e viu uma jovem rapariga, de cabelo liso e negro, figura magra e com cara virada para o chão, com os braços esticados e duas toalhas dobradas, uma mais pequena sobreposta a uma maior, pousadas nas mãos, como se lhe estivesse a oferecer um precioso tesouro. Ele aceitou as toalhas e esperou que ela olhasse para cima para agradecer. Sem se mover, a rapariga agradeceu primeiro, como se tivesse sido ele a dar-lhe alguma coisa, e fugiu pelas escadas. Ele ficou a vê-la descer os degraus, sem quase fazer barulho com os pés, e estranhou tudo aquilo, mas sorriu e voltou a fechar a porta.
Dirigiu-se para a pequena casa de banho, onde só cabia uma sanita, um apertado poliban e um minúsculo lavatório, pendurou as toalhas e abriu a água do duche. Aos soluços pelos canos, a água finalmente começou a cair pelo chuveiro, primeiro acastanhada e gelada, mas depois transparente e morna, sem nunca chegar a quente. Ele assumiu que aquilo era melhor do que tinha tido nos últimos anos e desfrutou daquele duche como quem desfruta de umas termas revigorantes.
Mal desligou a água, ouviu novamente os nós de uns dedos a baterem à porta. Colocou a toalha à cintura e foi abrir. Era novamente a estranha rapariga, desta vez sem toalhas, mas com a cabeça ainda baixa e os olhos fixos no chão. “Desculpe, mas não se pode usar água quente durante mais de cinco minutos”, disse ela. “Porquê?”, retorquiu ele. “Porque a nossa caldeira está com um problema e não dá para ter água quente durante mais de cinco minutos em cada quarto, sobretudo à noite”, respondeu ela ainda com a cabeça baixa. “Muito bem, não voltará a acontecer”, disse ele. “Peço desculpa”, disse ela como se tivesse sido ela a visada. “Ora essa, regras são regras. Mas, já agora, se precisarem, eu posso tentar arranjar essa caldeira, tenho alguma experiência nisso”. A rapariga levantou finalmente a cabeça e percebeu então que ele estava apenas com uma toalha enrolada à cintura. A sua cara ficou vermelha num ápice, o que a fez voltar a baixar a cabeça. Ele sorriu. “Não tenha vergonha, somos todos humanos”, disse ele a rir. Muito devagar, a rapariga voltou a levantar a cabeça. O ar de menina que tinha com a cabeça baixa não correspondia à cara com feições já de mulher. O seu sorriso simpático e o seu olhar luminoso criou nele a dúvida acerca de que idade teria. Parecia também ter os cantos dos olhos um pouco longos, possivelmente de alguma ascendência oriental, mas o rosto tinha linhas ocidentais. Ela voltou a baixar a cabeça e agradeceu, numa vénia. “Então, dentro de dez minutos estarei na receção”, disse ele. “Sim, senhor”, respondeu ela, e afastou-se novamente em direção aos degraus que a levavam ao piso de baixo. Ele fechou a porta e olhou para a sua pequena cama. “Ainda não vai ser agora que eu me deito contigo”, disse em voz baixa.
Limpou-se, vestiu-se e dirigiu-se à recepção. Atrás do balcão, um homem gordo e baixo fumava um cigarro enquanto via um jogo de futebol na televisão. “Boa noite, sou o hóspede do quarto 23. Uma rapariga que trabalha aqui disse que vocês precisavam de ajuda para arranjar uma caldeira…”, disse ele ao homem que não tirou os olhos do televisor. “Ah, sim, é ao fundo desse corredor”, disse o homem, apontando vagamente com a mão para a sua esquerda. Ele olhou na direção da mão e viu um pequeno corredor que acabava numas escadas. Agradeceu e seguiu até ao fim do caminho estreito e mal alcatifado. Quando chegou às escadas, viu que desciam em caracol para uma cave cheia de tubos e grades de cerveja vazias. Desceu e lembrou-se que nem sabia o nome da rapariga que lhe tinha batido à porta. “Olá…”, gritou. “Aqui!”, ouviu, vindo do outro lado das grades de cerveja. Ele dirigiu-se em direção à voz e quando finalmente virou a esquina das grades, viu a rapariga, já de cara levantada, sentada em cima de uma caixa de ferramentas. Ambos sorriram. “Estava a ver que me ia perder aqui”, disse ele. “Desculpe, senhor”, disse ela “eu avisei o meu pai para ele dizer…”. “Sim, ele disse”, interrompeu ele com uma gargalhada. “Então vamos lá ver isto…” e começou a inspecionar a caldeira.
À medida que o tempo ia passando, o calor foi-se tornando cada vez mais intenso e, com o suor as roupas foram ficando cada vez mais coladas ao corpo. Ele resolveu tirar a t-shirt e viu que desta vez a rapariga não desviou o olhar. Estranhamente, nem por um segundo, ela tinha saído de perto dele durante todo aquele tempo e calor, fornecendo-lhe tudo aquilo que ele pedia com peculiar entusiasmo. “Pronto, acho que agora já se vai poder tomar banhos de, pelo menos, 6 minutos”, disse ele, satisfeito por ter deixado de ouvir os estranhos sons vindos da caldeira antiga. A rapariga sorriu e bateu palmas de entusiasmo. “Que bom!”, disse ela, e acrescentou “como posso compensá-lo, senhor?”. Ele ficou surpreendido. “Ora essa, a compensação é eu poder tomar banhos mais demorados.” Ela parou de sorrir por um momento mas, depois de pensar um pouco, afirmou. “Posso fazer-lhe uma massagem, se quiser.” Ele olhou para ela desconfiado. “Uma massagem?”, repetiu ele como se a querer saber se tinha percebido bem. “Sim, teria todo o gosto”, disse ela. Depois de tanto tempo encarcerado e sem sentir o toque de uma mulher, aquela era talvez a melhor recompensa que lhe poderiam dar. “Muito bem, aceito. Já sabes qual é o número do meu quarto, certo?”. Ela olhou-o nos olhos e disse “sei, sim, senhor.” Ele sorriu e voltou a subir as escadas em caracol.
Dirigiu-se ao seu quarto e foi novamente tomar banho, desta vez propositadamente com água fria para compensar o calor que sentia no corpo. Limpou-se, enrolou novamente a toalha à cintura, deitou-se na cama e pegou num pequeno livro de fotografias antigas que encontrara na gaveta da mesa de cabeceira. Assim que abriu o livro, ouviu um toque na porta. Pousou o livro e levantou-se. Abriu a porta e viu a rapariga, agora completamente vestida de vermelho, entrar sem dizer qualquer palavra. Ele fechou a porta e ficou a observá-la. Ela trazia consigo um saco, também vermelho, o qual pousou no chão antes de se ajoelhar ao seu lado. Abriu o saco e retirou de dentro um frasco de vidro com um líquido transparente, um frasco de perfume, um conjunto de velas e um enorme lençol lilás. Colocou as velas à volta da cama, borrifou o ar com o frasco de perfume, abriu o lençol sobre o colchão e voltou a ajoelhar-se junto à cama. Ele tinha ficado a assistir a tudo aquilo e só alguns momentos depois se apercebeu que ela o esperava. Dirigiu-se então para a cama e sentou-se. Ela levantou-se a desapertou-lhe a toalha, desta vez sem corar. Deitou-o com delicadeza sobre o lençol sedoso e colocou-lhe a mão sobre os olhos, como se indicasse para os fechar. Ele manteve-os fechados. As mãos dela cheiravam a várias especiarias, o que o levou numa viagem mental por outros lugares que não aquela pequena pensão nos arredores da cidade. O toque daquelas mãos revelava também que já tinham viajado por muitos outros corpos. A sabedoria que as levava aos pontos mais sensíveis, a intensidade e a delicadeza com que os explorava e os libertava de todas as tensões, provocava-lhe um prazer que ele não se lembrava alguma vez de sentir. O relaxamento era de tal forma profundo que começou a sentir uma ereção a desenvolver-se no meio das suas pernas. Ainda tentou controlá-la porque pensou que a rapariga poderia ficar chocada, tal como tinha ficado quando ele lhe abriu a porta só de toalha mas, como ele próprio dissera, eram todos humanos, e assumiu que aquela reação era mais que natural naquela situação. Estranhamente, pensou que para ela também não seria nenhuma surpresa. Relaxou e deixou a ereção tomar o seu fulgor.
Nesse momento, os dedos que lhe percorriam a pele foram substituídos por gotas quentes de um líquido espesso, que ele sentiu a espalhar-se por todo o seu corpo. Depois, as mãos voltaram para se fundirem com o líquido e o toque intensificou-se ainda mais, primeiro nos seus pés, depois nas pernas, nos braços, no peito e finalmente no seu pénis completamente ereto. Ele não queria acreditar no que aquela rapariga, que apenas fitava o chão, lhe estava a fazer. As suas pequenas e sábias mãos tinham-se agarrado ao seu membro como dois tentáculos e manobravam-no como um leme de um barco, torneando-o e sugando-o, desde a base à glande, com ritmos e intensidades que o aproximavam e o afastavam do orgasmo. Por momentos, ele sentiu que já não eram as mãos que o seguravam mas sim uma boca sedenta ou o interior de uma vagina completamente encharcada. Abriu ligeiramente um dos olhos e viu que não, eram apenas duas mãos a trabalhar em sincronia para que as sensações fossem cada vez mais exponenciais. Ele estava prestes a explodir de tanto prazer. Sentiu que aquela enigmática mulher controlava toda a energia do seu corpo, aumentando e retraindo o seu fluxo. Fê-lo mais vezes do que ele conseguiu contar, até que, depois de uma sequência de movimentos inacreditavelmente intensos que o levaram ao limite do êxtase, parou de repente e voltou a tocar-lhe com delicadeza e carinho. Aquela contenção ejaculatória despertou nele uma série de gigantes convulsões orgásmicas, que atravessaram o seu corpo como as ondas num mar revolto. O que costumava ser um orgasmo de poucos segundos, durava agora há vários minutos e não ele não via forma de o parar. No meio daquele tormento, abriu finalmente os olhos. As mãos da rapariga estavam pousadas sobre o seu peito, enquanto murmurava uma melodia que parecia ressoar por todo o quarto. Aos poucos, as convulsões de prazer foram-se tornando mais espaçadas e subtis. Ele olhou para ela e sentiu-se completamente vulnerável perante aquela presença. Nunca se tinha sentido assim na vida. O homem rebelde estava nas mãos de alguém que nem sequer conhecia e só lhe apetecia ficar. Finalmente, em paz.
Rui Simas