ELA I | Conto Erótico
Ela desejava ser desejada. Tudo nela tinha de tirar o fôlego a quem a vislumbrava. Das pontas perfeitamente alinhadas do cabelo cuidadosamente penteado, às unhas minuciosamente limadas dos dedos educados ao piano e aos bordados. O seu corpo fora tonificado por aulas diárias de ginástica intensiva e tratamentos estéticos de vanguarda científica. Ela ansiava ser desejada e nenhum pormenor ficava ao acaso.
Os vestidos eram ajustados ao milímetro para se colarem a cada curva do seu corpo, os decotes eram abismos vertiginosos que desciam do cume de dois mamilos simetricamente e estoicamente eretos, das suas ínfimas saias brotavam duas amplas e torneadas pernas que nunca se cruzavam e dessas pernas sobressaiam dois lânguidos pés que se embutiam em sapatos com saltos tão altos que nem mesmo alguns equilibristas de circo se atreveriam a usar. Tudo nela clamava por atenção. Os lábios estavam sempre húmidos, como se a sua boca vertesse mel à espera de ser lambuzada gulosamente.
Os seus olhos, quando fixos numa presa, eram poços intermináveis de mistério que arrastavam consigo a alma de quem ousasse olhar-se no seu reflexo. A sua pele eriçava-se ao mais ligeiro toque, com todos os poros a despertarem o fogo ardente que estimulava os seus desejos mais íntimos.
Todo o seu corpo se abria à vontade alheia. Ela desejava desesperadamente ser desejada. E, no entanto, ninguém lhe retribuía esse desejo. Ela suspirava, vociferava entre dentes e masturbava-se a todo o momento, em todos os lugares, a pensar em todas as possibilidades que pareciam prometedoras e acabavam perdidas.O empregado da loja, o segurança da recepção, o homem das obras, o motorista do Uber… até o sem abrigo a quem ela foi propositadamente pedir lume na estação de metro.
Sem ser desejada por ninguém, ela apenas conseguia desejar-se a si mesma, refugiada numa casa de banho pública, escondida numa esquina, ou mesmo no meio de uma multidão com a mão apertada firmemente entre as pernas, tinha orgasmos de fazer revirar os olhos de tanto prazer, sangrar os lábios de tanto morder, cair de joelhos de tanto tremer, de quase ficar sem ar de tanto suster a respiração e tudo sem fazer um único barulho, enquanto imaginava o que seria ser fodida por alguém, ali mesmo, sem dó nem piedade, só por conta de um desejo incontrolável de a desejar.
Não importava como, nem quem, nem quando, nem porquê. Apenas queria ser penetrada de todas as formas possíveis pelo impulso da paixão, pelo pulsar da tesão, pelo rígido impacto da empalação. Dos restantes detalhes não rezava a sua história. Ela só não queria voltar para casa e passar mais noites em branco, ao lado do seu bilionário marido, que nem nunca um beijo com desejo lhe dera e que nem para uma conchinha ligeiramente satisfatória servia.
Rui Simas