ela iii

ELA III | Conto Erótico

Ela construiu a sua família desde os 16 anos. Casada por uma gravidez acidental, sabia que tinha de ser mais forte do que qualquer outra pessoa que conhecia. Dois anos depois, a morte da mãe. Sozinha com um pai, um marido e um menino, podia ter desistido. Mas nunca tinha desistido antes. Desde o seu prematuro nascimento até à presidência da associação de estudantes da sua escola, a confiança nas suas capacidades não conhecia limites. Ela tinha aprendido, por inspiração divina ou por outra razão qualquer, como ser o que queria e nada se colocaria no seu caminho.

Foram os homens da sua vida que tiveram de acelerar o passo. Converteu um pai de luto num avô dinâmico e carinhoso. Transformou um marido preguiçoso e egocêntrico num homem ambicioso e respeitável. E dedicou-se a criar o seu filho para o tornar num rapaz responsável e atencioso. Durante 20 anos, foi uma líder de sucesso em casa e fora dela. Geria familiares, colegas e amigos numa rotina cheia de desafios constantes, mas pouco tempo tinha para si mesma, para desfrutar da vida sem responsabilidades e do tempo sem horas marcadas.

No dia do 20 aniversário do seu filho, numa visita casual à mercearia, encontrou uma cara conhecida que já não via há muito tempo. Um amigo da adolescência, antes da maternidade, antes da esposa, antes da guerreira. Os seus olhares cruzaram-se e sustiveram-se, presos um no outros, antes de sequer se consciencializarem que se conheciam.

Quando finalmente as suas memórias despertaram, ambos os lábios sorriram e, nervosamente, aproximaram-se. Um abraço e os cheiros dos cabelos fizeram despertar mais lembranças. A conversa finalmente fluiu com mais certezas e curiosidades. Subitamente esquecida da festa de aniversário do seu filho, saíram para tomar um café e, casualmente, conversaram horas a fio. Um toque do telefone serviu de despertador para a vida real.

Os olhos brilhantes secaram e a despedida foi o tempo do ditar de um número de contacto. Dias depois, as conversas por mensagem já não eram tão casuais. Num desenrolar sem fim de perguntas e repostas, de curiosidades e desafios, a gestão dos dias já só era feita nos intervalos das notificações. Não se importava se a casa não estava imaculada, se a roupa estava bem dobrada ou se a comida estiva bem condimentada, porque não lhe saberia a nada.

A sua atenção estava dispersa pelo ânimo provocante da conversa. Foi então que, no fim de mais um dia que passou a correr, na última mensagem que recebeu antes de adormecer, o amigo lhe contou um desejo secreto. Um segredo tão provocante que deitou fogo ao seu corpo e humedeceu os seus sonhos. Nos dias seguintes, a sua mente estava em êxtase e em caos. Esqueceu-se da carteira por duas vezes no balcão da mercearia, deixou o carro aberto durante a noite com a chave na ignição, partiu copos e pratos enquanto lavava a loiça e enganou-se três vezes no caminho para o trabalho.

Nos jogos de futebol do filho, passava mais tempo a olhar para o vazio do que a observá-lo e nem aplaudia nem gritava de excitação como costumava fazer quando ele marcava um golo. Faltava às suas aulas de Zumba porque trocava os horários e já nem as amigas podiam contar com ela para os cigarrinhos às escondidas do treinador depois do treino. Parecia que estava hipnotizada por alguma coisa.

Aquele segredo fez com que pensasse em algo em que nunca tinha pensado antes, pelo menos de forma tão séria e adulta como agora. Mas a cada dia que passava, a ideia crescia na sua cabeça, nos seus sonhos, nos seus instintos, nos seus desejos mais íntimos. Ela sentia o seu corpo a tremer só de pensar nas possibilidades que aquele segredo implicava. Mas se ela seguisse os seus desejos, significaria perder tudo pelo que tanto lutou. Valeria a pena deixar tudo para trás por causa de uma provocação? O risco era gigante, mas o seu desejo era tão intenso…

Nessa noite, enquanto tentava ler um livro de poesia, deitada na sua cama, sentiu o telemóvel vibrar no meio das suas pernas, onde o costumava guardar depois do marido adormecer. A mensagem tardia era do amigo perdido. “Estou a ir. Vens?” Ela suspirou demoradamente, desligou o telemóvel e colocou-o novamente entre as pernas.

E, quando o fez, sentiu uma gota de líquido escaldante escorrer pelos lábios da sua vulva, deslizar ardentemente pelo seu períneo e contornar uma das suas nádegas até pingar para o lençol. Os seus dedos que agarravam o objeto agora inanimado, abriram-se e encostaram-se à sua pele quente. O seu marido respirava pesadamente ao seu lado. Mas, naquela noite, ela não seria a sua mulher. Nem nos seus pensamentos, nem nos seus sonhos, nem nos seus múltiplos… e silenciosos… orgasmos.

 

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