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ELE I | Conto Erótico

Ele era um veterano. De qual guerra, não sabia. Mas já tinha estado em muitas. Desde a sua infância que passava os dias à procura delas. Das guerras. Assim que se conseguiu suster nas suas duas pernas, lançou-se a galope pelas curvas da vida à procura de algo que lhe desse luta. Daquelas lutas que deixam marcas, partem ossos, fazem sangue. Sem nunca pensar nas consequências dos depois, atirava-se de sítios altos, batia contra sítios duros, brincava com objetos afiados e tentava acertar em tudo o que mexia, mesmo que isso resultasse numa retaliação feroz. O que o movia era o movimento do mundo.

A terra girava debaixo dos seus pés, logo ele também não poderia parar, mesmo com os mais temíveis obstáculos pela frente. De pequenos furtos que acabam em grandes correrias, a jogos de bola que acabavam em lutas marciais, ele sabia, mal acordava, que o dia só valeria a pena se chegasse à cama com mais dores do que sono. Era a única forma que tinha de se sentir vivo. Tudo o resto era ruído, sem interesse, sem estímulo.

De guerra em guerra ia lutando, suando, sangrando, mas sem glória. As vitórias eram demasiado pequenas para compensar tanto esforço, tanta entrega. Ele procurava algo que valesse realmente a pena, que pusesse à prova a sua resistência física e mental, que o desafiasse em todos os seus mais profundos medos e que o fizesse sentir como um verdadeiro soldado, validado, valioso, condecorado pela sua coragem, valentia e competência.

Mas nunca o sentiu em todas as lutas onde andou. Até que um dia, ao virar de uma esquina, lhe caiu uma bomba em cima. Um choque frontal e “boom!”, em cheio no porta aviões. Agarrou-se aos colhões. Dos destroços, dois corpos ergueram-se ainda desestabilizados pelo impacto, ambos em combustão, preparados para começar a disparar para todos os lados. Mas do outro lado, nada.

O silêncio ocupava o campo de batalha enquanto o pó assentava. De súbito, um toque. Nas costas, à má fila. Ele virou-se, punhos ao alto pronto para a luta, mas por entre as estrelas que ainda orbitavam o seu campo de visão, surgiu uma bandeira branca, aliás, uma camisa branca, desalinhada, com um ombro à mostra e uma tira de cetim lilás a marcar fronteira. Da contraluz do pôr do sol que ainda o encandeava, uma silhueta despenteada ganhava feições doridas. As mãos baixaram-se lhe, os punhos abriram-se, não era uma guerra que aquela bomba tinha despoletado, mas sim uma missão de auxílio.

Auxiliou a ferida, primeiro com palavras pacificadoras e depois com curativos. Roubou-lhe o nome “Vitória” e percebeu que aquela guerra já ele a tinha perdido. Ajudou-a a recompor-se e ela deu-lhe uma menção honrosa. Não era digno de insígnias ou estrelas pendentes ainda, mas a Vitória mostrou-se mais acessível do que à partida parecia. Ele engalanou-se e quis mostrar que já sabia muito.

Ela disso não queria saber. Interessava-lhe mais o que ele não sabia e pretendia aprender. Ele deixou de ser armar e apresentou-se como recruta, disposto a todas as lutas para a conseguir ganhar. Mas ela não queria ser ganha, ela queria ser conquistada. E não por lutas, mas por valores. “Que és capaz de destruir já eu sei, mas agora mostra-me o que és capaz de construir”, ordenou ela sem dar nenhuma ordem. E ele, veterano de guerras, olhou-a, despiu-se, desarmou-se, puxou dos galões e apresentou-se ao serviço do amor.

 

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