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ELE II | Conto Erótico

Ele era um homem de negócios. Não lhe interessava nada que não lhe rendesse algum dinheiro. O seu dia-a-dia era cheio de contas, pesos e medidas. Fosse o mercado da bolsa, as gramas de proteína às refeições ou a medida exata do leite vertido no seu café, tudo era refinado ao pormenor. O tempo escasseava. Os dias não eram longos o suficiente para todas as suas tarefas e muitos deles se fundiam uns nos outros, sempre à procura do momento certo para celebrar mais um euro. Não se lembrava da última vez que tinha conversado mais do que dois minutos com uma pessoa ao vivo.

Todo o seu trabalho era atrás de um ecrã ou de um microfone. Não havia tempo para pessoas, só máquinas e, mesmo assim, as máquinas tinha de ser mais competentes e fidedignas que ele próprio, o que não era fácil. A sua rotina espantava família, amigos e qualquer pessoas que ousasse atrasar-se ou demorar-se um minuto a mais do que a sua disponibilidade criteriosamente definida pela sua agenda digital. Qualquer prazer na sua vida era cronometrado.

Os exercício no ginásio só eram sentidos pelos seus músculos, a degustação de um jantar no restaurante mais caro da cidade só era sentido pelo seu palato, a música que constantemente bombeava para os seus ouvidos nem sequer era apreciada, apenas produzia ritmo para os seus dedos teclarem ou as pupilas dos seus olhos acompanharem todos os movimentos de linhas e números numa tela.

O fim de semana era mais um dia, e às cinco da manhã de um domingo, o seu telefone tocou de um número privado. Uma voz feminina, tão mecânica como a dele, quis saber quando poderiam marcar uma reunião para tratar de negócios pendentes. Ele consultou a sua agenda e disse “12 minutos.” A mulher desligou. Num movimento, ele pegou no casaco e correu para a porta. 12 minutos até ao encontro.

Desceu para a garagem, tirou o carro do lugar e entrou na cidade. Todos os sinais estavam verdes, inclusive os vermelhos. Acidentes aconteciam à sua passagem mas tudo lhe passava ao lado. 7 minutos até ao encontro. Seguiu por uma autoestrada que acabava numa rotunda e meteu-se pelo caminho de terra batida que não tinha indicação sinalética. Chegou a uma casa demasiado moderna para o contexto rural que a rodeava. Estacionou o carro junto ao portão. 3 minutos para o encontro. Entrou com o carro e estacionou à porta. Saiu.

Colocou-se junto à porta de entrada da casa e olhou para o relógio uma última vez. 12, 11, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1… tocou à campainha. Ela abriu. Olhou-o sem sorrir. Ele entrou sem levantar os olhos e foi colocar-se junto à lareira, ajoelhando-se no centro do tapete persa. Ela fechou a porta pesadamente e caminhou em câmara lenta em direção a uma pequena mesa que estava junto a ele. 17 passos, 17 segundos. Na mesa estava uma taça de prata, tapada, que ela destapou sem fazer qualquer som.

De dentro da taça, ela tirou um biscoito em forma de osso e atirou-o para o chão. Ele, sem levantar os olhos, gatinhou até ao biscoito e abocanhou-o, desfazendo-o na boca. De cima da mesa, ela tirou uma corrente ligada a uma coleira e dirigiu-se a ele. Prendeu-lhe a coleira ao pescoço e puxou-a contra a sua saia. Pegou na saia e envolveu a cabeça dele com o tecido. “Lambe. 30 segundos”, disse ela. E ele lambeu. Avidamente.

Com a sede de um animal desidratado, mas com o prazer de quem degusta um bom vinho, como nunca tivera vontade de degustar nenhum vinho em lado nenhum. “Chega”, ordenou ela, com as pernas ligeiramente bamboleantes. Lentamente, retirou-lhe a coleira e gritou “agora vai-te embora, xô!”, enquanto ajeitava o cabelo e agitava a corrente. Ele levantou-se e saiu sem olhar para trás. Entrou no carro e olhou o relógio. 3 minutos desde que chegara. Ainda ia a tempo de fechar um negócio antes do pequeno almoço.

 

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