O mistério do mistério
Recorrentemente, tanto em consulta como em conversas pessoais, surge a dúvida sobre como manter o mistério numa relação duradoura ou se o mistério é ou não a salvação do interesse sexual e romântico a longo prazo. Do meu ponto de vista, a questão do mistério é igual em todo o lado, seja na vida, nos filmes, nos livros ou até em jogos.
A utilidade do mistério é cativar a atenção, é criar ansiedade, é fomentar expectativas, é sustentar um suspense, é alimentar uma incerteza. O corpo e sobretudo a mente apreciam serem postos à prova e deliciam-se com as reações químicas que o desconhecido provoca, mas esse estado de alerta rapidamente se torna insuportável se for constante e, pior, se não culminar numa recompensa, num reconhecimento, numa conclusão.
O mistério deve ser o condimento e não o prato principal. Porque demasiado mistério não faz bem nenhum ao fígado. Nesse sentido, tal como vemos um filme, ou lemos um livro ou jogamos um jogo em que não sabemos o final, também somos capazes de rever um filme, um livro ou um jogo onde já sabemos o final, exatamente porque o maior prazer é ver como a trama se desenvolve.
Privilegiamos a vivência do processo em vez de estarmos apenas ansiosos pela sua resolução, apreciamos a experiência de viver o presente em vez de estarmos apenas com as expectativas suspensas no futuro, e valorizamos as sensações que nos fazem compreender a virtude de criar os nossos próprios enredos de mistério e provocação. É sempre possível criar novas formas de nos darmos a conhecer, tal como é sempre possível arranjar novas formas de querer conhecer os outros. Somos seres em constante desenvolvimento e transformação.
O mundo está cheio de novas experiências que nos podem fazer olhar a vida de forma diferente. E por isso não é o amor que está dependente do mistério, é o mistério que está dependente daquilo que realmente nos desperta interesse.
Rui Simas
Erotic coach