O prazer da dor
Na teoria, a relação entre dor e prazer é considerada uma linha limite na vivência do erotismo. No entanto, a busca por sensações fortes pode muitas vezes resultar em momentos e ações que nos levam a transpor alguns dos nossos próprios limites, no sentido de descobrir vontades e desejos físicos e psicológicos que desconhecíamos.
As sensações de dor e o prazer estão intimamente ligadas e tanto o prazer como a dor podem ser suportáveis ou insuportáveis. Em termos fisiológicos, a resposta a ambos os estímulos é semelhante, divergindo apenas na causa. . No caso da dor, as endorfinas libertadas servem para compensar e atenuar o sofrimento, e no caso do prazer, servem para recompensar e intensificar a excitação.
Por esta razão, é muito comum que certos atos provoquem sensações paradoxais onde, por exemplo, se sente prazer em conseguir suportar a dor ou dor quando o prazer é demasiado intenso. Estas ações podem acontecer de forma inesperada e casual, podendo causar uma reação instintiva de fuga ou trauma, ou de forma consciente e propositada, com preparação e um objetivo concreto, de forma a proporcionar uma nova vivência do prazer sexual a que alguns designam como “kinky”.
Este universo kinky, que pode e deve ter os seus próprios limites e regras, é um campo imaginário onde a natureza do sexo e do erotismo é expandida através de processos de experimentação, superação, sacrifício e busca de sensações profundas.
Tanto a dor como o prazer permitem levar essas experiências ao limite. No entanto, para quem procura apenas satisfazer curiosidades, não é tanto o limite que interessa, mas sim todo o processo físico e mental até lá chegar. É nessa procura por atividades sexuais diferentes e mais específicas que algumas pessoas identificam, numa fase mais avançada e concreta, alguns fetiches ou parafilias.
Mas, até lá, a vontade de experimentar atividades ou instrumentos que provoquem sensações diferentes durante os momentos de interação sexual, parece ser cada vez mais comum nos dias que correm. Seja por inspiração em filmes ou livros, seja pela crescente oferta de produtos que atribuíram uma conotação lúdica a objetos de castigo e tortura, dinâmicas como o sadomasoquismo, o bondage ou uso de cordas, a exploração dos sentidos com métodos de privação ou estimulação sensorial, ou até mesmo o uso de trajes específicos para encarnar personagens em role play, veio abrir todo um novo campo de possibilidades que merece ser descoberto com curiosidade, responsabilidade e com um elemento fundamental para viagens deste tipo: a palavra de segurança, ou “safe word”, que permite terminar o ato imediatamente sempre que alguém se sentir desconfortável.
Este é um caminho que se está abrir para revelar novas formas de expandir o universo erótico e íntimo, e que permite estimular a comunicação, a definição de limites, a autodeterminação e, sobretudo, a criatividade erótica.
Rui Simas
Erotic coach
www.simas-eros.com