Primeiro estranha-se

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Primeiro estranha-se | Conto Erótico

Ela já se tinha divorciado antes. Agora, pela segunda vez, tinha sido abandonada por um homem a quem tinha dado a vida. E, de novo, para outra mulher. Sentia-se como o último pedaço de merda na Terra. Sentia-se indigna. Tinha dois filhos. Um de cada casamento. Um rapaz e uma rapariga. Pelo menos tinha-os, pensou. E a casa. E o seu trabalho. E a sua saúde. A sua saúde era importante. E alguns amigos.

Não estava assim tão mal. Mas por que não conseguia manter um homem sem que ele a deixasse por outro rabo de saia? Era inteligente. Era engraçada. Ela atenciosa. Estava em boa forma para a idade. Tinha um emprego estável. Sabia cozinhar, cuidar das crianças, ser uma boa amante.

“O que pode um homem querer mais?”, perguntou a uma das suas amigas. “Gajas mais novas”, respondeu prontamente a amiga. Riram as duas. Homens estúpidos, pensou. E beberam shots de tequila, brindando a todos os idiotas do mundo. Foi numa dessas noites, uma noite só de mulheres, quando as crianças estavam cada uma com os seus respetivos pais, que ela planeou acabar com o mundo como ela o conhecia, não com tiros mas com shots.

A amiga, uma “gaja mais nova”, ficava feliz só por se juntar às suas maluqueiras. Começaram então a ir aos bares e discotecas mais caros da cidade, onde pudessem encontrar homens estúpidos e tarados que lhes oferecessem tudo e mais alguma coisa à espera de algo em troca. Ela sentia-se vingada, poderosa, confiante. Sentia que podia controlar e manipular o desejo de cada homem que encontrava. Afinal, eram todos iguais. Sentia que podia obrigá-los a fazer qualquer coisa, mas ela nunca fazia nada com eles. Não nesse contexto.

Nunca tinha ido para a cama com ninguém no primeiro encontro. Tinha casado com os dois únicos homens com quem tinha fodido na vida. E mais ninguém. Mas numa dessas noites, a amiga perguntou-lhe porque não experimentar estar com alguém só uma vez, sem saber nomes nem nada. “Ter sexo com um estranho”, pensou, “porque não? Que se lixe! Se é para o mundo acabar, que acabe em grande!” Então, nessa noite, depois de uma dezena de shots no peito, entrou na pista de dança e dançou por entre a multidão, agarrando-se a todos os braços fortes, tocando em cada peito peludo e beijando os rostos mais barbudos.

Em pouco tempo, estava rodeada por uma matilha de predadores salivantes, a explodir de testosterona. Ela dançou e esfregou-se em cada um deles. Sentiu o pulsar dos seus membros latejantes. Todos a queriam devorar ali mesmo. O círculo começou a fechar sobre ela. A sala começou a ficar cada vez mais pequena com toda aquela tensão. E, de súbito, o mundo começou a acabar. Os homens começaram a empurrar-se. Os braços tornaram-se punhos. Os ossos começaram a estalar. O sangue a salpicar. O vidro foi partido. O pânico a gritar. Ela não sabia o que fazer. Mas na bruma do caos, uma mão agarrou-lhe o pulso e levou-a para fora da zona de guerra.

Ela correu pela sua vida. Num ápice, respirou ar livre, para logo em seguida ser metida dentro de um carro. “Estás bem?”, perguntou uma voz. Ela estava demasiado cansada e bêbeda para dizer alguma coisa. Nem conseguia ver quem estava a perguntar. Duas mãos frias agarraram-lhe no rosto mas os olhos dela continuaram a rodopiar. Não sabia dizer se era um homem ou uma mulher. Ela apenas conseguia sentir duas mãos frias e fortes no rosto e um hálito fresco vindo da boca da pessoa. Viu sobrancelhas pesadas, lábios grossos, nariz grande, dentes perfeitos, olhos castanhos escuros e cabelo loiro curto. “Estás bem?”, perguntou a voz novamente.

De repente sentiu algo de plástico a tocar-lhe nos lábios e um líquido a entrar-lhe na boca. “É água, não te preocupes”, disse a voz. Ela bebeu. Dois minutos depois, a sua visão tornou-se mais clara. Mas mesmo assim, não conseguia definir quem era a pessoa à sua frente. “Queres que te leve a casa ou que chame um táxi?”, perguntou a voz. “Casa”, disse ela. Murmurou a morada e o carro arrancou.

Chegaram com ela a tentar não adormecer. Sentiu o seu corpo a ser levado até à porta. “Vais ficar bem?”, perguntou a voz, depois de a encostar à porta. “Não. Entra. Chaves”, disse ela, não conseguindo procurá-las na mala. As mãos frias pegaram nas chaves e abriram a porta. Entraram. Ela agarrou o casaco da pessoa que a segurava em ombros e puxou-a para o quarto.

Caíram na cama e ela começou a despir-se. “Quero que me fodas, estranho”, disse ela. E despiu o casaco, os sapatos, a camisola, o soutien, a saia e as cuecas. “Estou nua, estranho… “, balbuciou, “dou-te tesão?” Não obteve resposta. “Deixa-me ver”, disse ela, enquanto se tentava equilibrar de joelhos junto à cintura do estranho. Começou a desapertar o cinto, a desabotoar os botões, a desapertar o fecho e finalmente baixou-lhe as calças.

Esfregou-lhe as pernas e sentiu a pele macia, com poucos pelos. Quando olhou para cima, deparou-se com um sorridente unicórnio a saltar sobre um pequeno arco-íris num céu de algodão roxo, deslizando numa virilha sem volume. Parou. “Espera”, disse ela, “és uma mulher ou um homem?”, perguntou confusa. “Tenho que ser alguma coisa?”, respondeu o estranho com um timbre de voz que ainda não permitia esclarecer nenhuma dúvida. Ela não tinha resposta para dar.

A sua mente estava a tentar clarear-se mas os shots tinham-lhe provocado uma evidente morte cerebral. Ela tinha encontrado um estranho num lugar estranho e agora estava numa situação muito estranha. “Que melhor maneira de acabar com o mundo”, pensou ela. “Não me importo”, respondeu finalmente: “Só quero foder com um estranho”. “Bem, isso sou eu então”, respondeu o estranho. “Só estive com homens”, disse ela. “Não se preocupe”, respondeu o estranho enquanto a agarrava pelas mãos e a puxava para a cama: “Acho que vais perceber as coisas muito rapidamente”.

Ainda na penumbra, ela levantou-se e beijou a boca com hálito fresco sem querer saber mais nada. Contra o seu peito sentiu o outro peito e apertou-se contra ele. Os seus seios sentiram o volume de outros seios. e os corpos almofadados deslizaram entre si. Tiraram as roupas que ainda separavam os corpos e as duas figuras nuas foram banhadas pelo luar.

Ela parou por um momento para focar o olhar naquele outro corpo que lhe era estranho mas atraente. O seu olhar ainda enublado não quis demorar-se muito mas a sua boca, sedenta depois do beijo molhado, quis saborear aquele corpo estranho e atirou-se avidamente ao pescoço, depois aos ombros, depois aos mamilos dos pequenos e rígidos seios. Sem nunca ter provado nada semelhante, ela sugou os mamilos eretos como se procurasse o elixir da vida.

A língua dela movia-se de tal forma que eles cintilavam com o brilho do luar. Os gemidos de prazer aumentavam de intensidade. Quando se voltaram a beijar, já as mãos dela deslizavam por dentro da nuvem de algodão roxo, fazendo o unicórnio dar saltos de alegria sobre o seu arco-íris. Ela nunca tinha tocado numa vulva antes, mas aquela estava tão molhada e quente como a sua ficava nos momentos em que se masturbava.

O que lhe parecia estranho era, ao mesmo tempo, familiar e excitante. Ainda perdida nos seus pensamentos, foi agarrada como um saco de batatas e atirada para cima da cama. Nunca ninguém a tinha pegado ao colo daquela maneira. A força bruta excitou-a ainda mais. Sentiu o outro corpo a deslizar para cima dela e o contacto das duas peles provocou um choque. Ela estava a tremer. As mãos frias estavam agora quentes e suaves e começaram a acariciar-lhe o rosto, o pescoço, os seios, a cintura, a parte interna das coxas e, finalmente, abriram os seu lábios molhados para revelar o seu clítoris ereto. Ela exalava profundamente. O toque era tão suave. Aquelas mãos sabiam exatamente o que fazer.

Tinha desejado esse conhecimento durante muito tempo. Nenhum dos seus maridos soube como agradá-la logo na primeira tentativa. Mas aqueles dedos sabiam como criar antecipação, deslizando à volta da entrada da sua vagina quente e tocando muito levemente no seu clítoris, até que ela implorou silenciosamente para ser penetrada por eles, no preciso momento em que eles escorregaram dentro dela. O timing fora perfeito. Ela suspirou profundamente. Susteve a respiração. Estava a pingar.

Sentiu um choque, como um relâmpago, vindo de dentro. Sentiu que estava à beira da explosão. Os dedos começaram a mover-se dentro dela. Primeiro lentamente, depois mais rápido, mais duro, mais fundo, tocando o interior do seu púbis com precisão metódica. Sentiu o corpo a expandir-se. Sentiu um calor a correr-lhe como nunca tinha sentido antes. O seu corpo começou a sentir espasmos e convulsões descontroladas. A sua mente viajava à velocidade da luz. Sentiu uma necessidade iminente de urinar. E quando sentiu um choque elétrico estrondoso nos seus órgãos internos, teve um orgasmo monumental.

Durante vários minutos, o seu corpo estava fora de controlo. A sua mente estava ausente. Ela estava numa onda gigante de prazer. Foi avassalador. Foi assustador. Foi fantástico. Ela gritou. Vociferou. Arrancou os lençóis da cama. Pontapeou e deu murros no ar. Todo o seu corpo ficou tenso durante o que pareceu uma eternidade e depois, finalmente, colapsou. Impôs-se o silêncio depois da tempestade. A figura estranha permanecia quieta, ainda, como um fantasma na penumbra.

Ela estava a tentar não desmaiar, a sugar o ar, a olhar para o teto, a piscar os olhos de forma descrente. Depois sentiu um corpo suave e quente encostado ao seu lado. “Estás bem?”, ouviu. “Não sei”, respondeu. “Tudo bem, vais habituar-te”. “Vou?”, perguntou ela. “Se quiseres”. “Oh, eu quero”, disse ela enquanto adormecia com um sorriso: “Pode parecer estranho, mas quero”.

 

Rui Simas

 

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