O circo do sexo
Uma das analogias que mais gosto de fazer em relação ao sexo é compará-lo ao circo. Algo divertido, emocionante, performativo, por vezes arriscado, inovador e misterioso, e onde tudo pode ser experimentado.
Considerar o sexo como algo mais que apenas sexo é um dos principais truques do erotismo. Na sua essência, o sexo pode ser uma mera ação mecânica, que pode facilmente tornar-se uma tarefa repetitiva, rotineira, mundana, crua e focada em objetivos quantitativos ou qualitativos.
Sem imaginação, o sexo é apenas uma necessidade fisiológica, como comer ou dejetar, e é por essa razão que essas três ações são tantas vezes equiparadas. Mas tal como a experiência de preparar e saborear um prato de alta cozinha é diferente de engolir restos de comida reaquecida no micro-ondas, também o sexo ganha outras dimensões de prazer quando é condimentado por cenários, palavras, personagens ou desafios que estimulam os sentidos e a imaginação.
A magia do sexo, tal como do circo, está na alegria e na surpresa. Até se pode repetir o mesmo espetáculo, mas sempre com brilho e brio, procurando novas formas de melhorar as nossas performances e experimentar inovar de vez em quando, para que o público tenha uma crescente e incessante vontade de voltar e participar. Nem sequer precisa de ser sempre o maior espetáculo do mundo.
Às vezes basta só mesmo um pequeno truque de magia, um pequeno gesto provocador, para despertar a curiosidade. Criar e aproveitar todas as pequenas oportunidades para mostrar o quanto se gosta, o quanto se quer, o quanto se deseja, o quanto se admira. Às vezes basta isso para libertar o sorriso e o brilho nos olhos da nossa criança interior, eternamente fascinada com o mundo e com as suas possibilidades.
Provocar um sorriso é como provocar um pequeno orgasmo. Sorrir é erótico. Rir à gargalhada, mais ainda. É por isso que os palhaços vêm no fim. Rir é o apogeu do prazer. Talvez por isso a diferença entre “rir” e “vir” seja apenas uma letra. Mas no sexo nada tem de (se) vir no fim ou no princípio. Qualquer momento é bom para um rufar de tambores e uma apoteose.
A expectativa e a surpresa gostam ambas de ser correspondidas. Há que conhecer muito bem o público e saber o que ele gosta para o conseguir surpreender com algo que ele ainda não sabe (mas nós sabemos) que vai gostar. Umas vezes acerta-se, outras falha-se. Mas não é o resultado que conta, é o processo. A curiosidade, a vontade e alegria são os melhores mestres de cerimónia, por isso há que preservá-las ao máximo. Assim, o espetáculo merece continuar.
Rui Simas
Erotic coach
www.simas-eros.com